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Trajetórias: capitalismo neoliberal – Reformas econômicas nos países da periferia Sebastião Carlos Velasco e Cruz, Unesp, São Paulo, 2007, 451 p., 978-85-7139-784-2

A história é sempre imensamente instrutiva, além de constituir leitura apaixonante. No caso, o autor retraça as “trajetórias”, ou história econômica recente da Índia, da Coréia e da Argentina, permitindo ao leitor ir além das úteis mas frequentemente cansativas refutações teóricas do neo-liberalismo, e ver como as suas aplicações se manifestaram na prática em países concretos. Além do estudo aprofundado dos três casos mencionados, o autor traça numerosos paralelos com o Brasil, a Turquia e o México.

Trata-se de um estudo de desenvolvimento comparado, enfoque que ajuda a entender os processos econômicos na sua complexidade. Ao retratar as dinâmicas anteriores ao processo recente de globalização, basicamente a partir do pós-II Guerra Mundial, para em seguida mostrar como o neo-liberalismo foi reorientando as políticas econômicas de forma diferenciada segundo o contexto político e cultural, o autor evidencia esta interação crucial entre as determinantes globais e o reordenamento dos interesses e das instituições em cada país.

A história econômica no Brasil sofreu muito das simplificações abusivas, ora apresentando o país como joguete dos interesses externos, ora como potência autônoma. Neste sentido, ainda que o Brasil apareça na obra de forma apenas marginal, lendo as partes teóricas e as descrições das experiências temos o permanente sentimento de vê-lo como se fosse no espelho, e entendemos melhor a nossa trajetória ao observar como desafios semelhantes foram enfrentados em outras terras.

Trata-se portando de um estudo de casos a partir de uma visão sistêmica. Como o autor, além da análise, comenta frequentemente as alternativas possíveis, o livro torna-se uma rica fonte de discussão metodológica. Para quem quer entender as dinâmicas atuais, a obra traz uma visão organizada de maneira competente e fortemente crítica. A bibliografia é muito competente, e constitui um instrumento de trabalho em si. Os capítulos sobre Índia, Coréia e Argentina constituem isoladamente excelentes exemplos de estudos de caso para uso didático em sala de aula.

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