Les placements ethiques (Aplicações financeiras éticas) – Comment placer utilement son argent (como aplicar o seu dinheiro utilmente) – Alternatives Economiques, www.alternatives-economiques.fr , Paris, 4, 2003, ISSN 1291-1704
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Les placements ethiques (Aplicações financeiras éticas) – Comment placer utilement son argent (como aplicar o seu dinheiro utilmente) – Alternatives Economiques, www.alternatives-economiques.fr , Paris, 4, 2003, ISSN 1291-1704

Autor
Ladislau Dowbor
Tamanho
Editora
Ano

Fazer política sempre foi visto por nós como atividade muito centrada no voto, no partido, no governo. Mais recentemente, surgiram atividades em que a sociedade civil organizada arregaça as mangas e assume ela mesma uma série de atividades, em geral de cunho social, como por exemplo a Pastoral da Criança, ou o MST e outros. Mas está tomando forma cada vez mais clara e significativa a atividade econômica guiada por valores, por visões políticas no sentido mais amplo. As pessoas estão descobrindo que podem “votar com o seu dinheiro”. Um conjunto de atividades surgiram neste sentido no Brasil, com a ajuda entre outros de Paul Singer, na linha da Economia Solidária.

O livro sobre “aplicações éticas” foca uma forma particular de fazer economia solidária, que consiste em tirar o nosso dinheiro dos intermediários que o utilizam para especular, e aplicá-lo em instituições que asseguram que ele tenha utilidade social, ambiental ou econômica. No caso da França, está se expandindo com rapidez – ao ritmo de 20% ao ano – a aplicação financeira ética, e o livro que temos em mãos é um manual extremamente simples, um guia que nos diz onde podemos investir de maneira responsável.

As aplicações envolvem empresas de economia solidária – por exemplo o seu dinheiro será aplicado numa pequena empresa que organizou o transporte para pessoas deficientes na cidade, iniciativa demasiado pontual para interessar grupos empresariais tradicionais – ou empresas tradicionais que passam pelo crivo de uma série de critérios como o respeito às normas trabalhistas, respeito ao consumidor e assim por diante. Há fundos que além disso excluem um conjunto de empresas notoriamente anti-sociais como as que produzem armas, fumo ou bebidas alcóolicas.

Isto implica por sua vez um conjunto de critérios de avaliação de atividades empresariais, e com isto surgiram diversas instituições que fazem um seguimento sistemático de diversos setores de atividades e de empresas, de maneira que a pessoa que aplica dinheiro num fundo possa saber efetivamente em que o seu dinheiro vai ser aplicado. Para nós no Brasil, este conceito é de grande importância, pois contrariamente aos Estados Unidos ou à Alemanha, onde predominam pequenos bancos municipais e a população pode razoavelmente seguir o que se faz com o seu dinheiro, (na Alemanha, mais da metade dos recursos de poupança da população é gerida por bancos locais), nós normalmente não temos a mínima idéia do que acontece com o dinheiro que está no banco, mas é nosso.

O sistema montado na França é maduro e bastante sofisticado. Envolve legislação que permite que certas aplicações financeiras sejam tratadas de maneira diferenciada pelo fisco, envolve um sistema sofisticado de notação das empresas pelas instituições de avaliação, envolve a forte participação de organizações da sociedade civil, de sindicatos e de poderes locais, e envolve um sistema regular de informação ao acionista ou aplicador financeiro. Já pensaram se os fundos de pensão onde os sindicatos têm assento fizessem um controle efetivo de aplicações socialmente e econômicamente úteis?

O processo também se firmou na França porque além do interesse da população os bancos locais, comunitários ou do Estado, passaram a garantir as aplicações feitas em iniciativas de economia solidária, gerando um processo confiável.

Em termos práticos, o francés tem um pequeno manual onde em cada página aparece um fundo ético, com indicações da taxa média de remuneração da aplicação, a liquidez (alguns fundos exigem um determinado tempo de aplicação), a segurança (há desde aplicações garantidas pelo Estado até aplicações de risco como no mercado de ações) e a “mais-valia ética” que descreve em detalhe que tipo de atividade socialmente ou ambientalmente útil está envolvida.

Uma nota introdutória de Henri Rouillé d’Orfeuil dá o tom: “Os objetivos são claros. Trata-se de introduzir solidariedade, ou seja uma preocupação com o bem comum, no coração mesmo da economia, para que o crescimento leve ao progresso social e ao desenvolvimento sustentável, para que as empresas se tornem socialmente e ecologicamente responsáveis”

A leitura é extremamente instrutiva. Se você lê françês, puxe as informações no site www.alternatives-economiques.fr ; se você lê inglês, veja as alternativas apresentadas pelo Calvert Fund, na linha do “ethical marketplace” no site www.hazelhenderson.com . É interessante, para todos nós, ver que enquanto os mecanismos de mercado estão sendo engessados pelos gigantes transnacionais ou nacionais que monopolizam amplos setores econômicos, estão surgindo formas alternativas de regulação econômica baseados em valores e participação direta do cidadão.

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