The Truth about Markets
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The Truth about Markets

Autor
Ladislau Dowbor
Tamanho
Editora
Ano

Their genius, their limits, their follies

John Kay,Penguin Books, London, 2003, 0-713-99489-4

John Kay – The Truth about Markets – Penguin Books, London, 2003, 480 p.
(comentário de 20 de outubro de 2003)

A guerra das teorias a favor e contra o mercado é uma das mais longas que ja se travou, e continua firme. Mas está desembocando numa visão que começou a tomar forma: o mercado é necessário, mas insuficiente. Conforme o setor, o grau de concentração dos atores econômicos, o equilíbrio ou desequilíbrio de acesso à informação, pode ser útil, neutro ou nefasto. Na realidade, não se escapa de um exercício sistemático de levantamento sobre como os mercados funcionam ou deixam de funcionar, e em que circunstâncias.

É o que John Kay se propós, num livro de leitura extremamente leve sem ser simplório. A sua legibilidade resulta essencialmente da riqueza dos exemplos práticos que utiliza, e da clara definição dos conceitos em que se apoia. Esta combinação equilibrada de dados empíricos e de riqueza teórica nos leva simplesmente a uma melhor compreensão da realidade que vivemos.

A suposta racionalidade dos mercados está apoiada numa visão simplificada do mundo que se sustenta cada vez menos. No centro da visão, está a convicção de que o homem se comporta racionalmente visando a maximização de proveitos materiais. Uma vez que reduzimos a motivação a um fator simples, torna-se relativamente fácil prever o comportamento dos agentes econômicos. E se podemos prever os comportamentos, podemos prever os resultados. “Os economistas, segundo Kay, insistem na racionalidade porque não gostam das alternativas. O materialismo auto-interessado é melhor para previsões do que o altruismo. (…) A realidade, no entanto, é complexa. Há poucas maneiras de ser racional, mas muitas formas possíveis de ser irracional. O materialismo auto-interessado é passível de previsão; as ações dos que equilibram objetivos múltiplos são mais difíceis de se analisar, e esta é a razão porque os economistas adotam um conceito de recionalidade que se reduz ao auto-interesse. Isto parece oferecer um âncora num oceano de comportamentos humanos que de outra forma seriam imprevisíveis. Assumir a racionalidade confere à economia um rigor que a distingue das outras ciências sociais.” A análise do comportamento econômico, segundo Kay, “exige que olhemos como se dão as escolhas efetivas das empresas e das famílias, em vez de impor o que assumimos reger o seu comportamento”. (203)

Fugindo das explicações teóricas simplificadoras, Kay analisa sucessos e insucessos de empresas grandes e pequenas, de grupos privados ou estatais, de sistemas de planejamento central e de gestão descentralizada, olhando na prática como e por que razões determinadas experiências funcionaram, e outras não.

A impressão geral que fica desta análise, é que os processos são demasiado complexos para caber nas simplificações de mercado ou de planejamento central. Os processos que deram certo envolveram combinações particulares de liderança, de colaboração, de competição, além de estarem poderosamente alicerçadas em contextos sociais e culturais, muito além do raciocínio propriamente econômico.

Os aportes de Kay não são propriamente novos, mas a excelente sistematização de um manancial de informações, todas muito bem documentadas e apontando para os estudos de apoio correspondentes, fazem deste livro uma leitura profundamente instrutiva.

Se há uma ideologia por trás dos raciocínios deste economista britânico, é a convicção de que qualquer tentativa de emperrar as transformações, seja por parte das grandes empresas que dominam determinados setores, seja por parte de experiências de planejamento autoritário, estão fadadas ao fracasso. É no pluralismo das soluções, com muita descentralização, informação e democracia, que se constroem as inovações.

Numa área onde tendem a predominar as convicções obsessivas e simplificadoras, o livro de Kay realmente refresca. Descrever as formas complexas e diversificadas de como o mundo se constrói e se transforma, não tem o “glamour” dos grandes rasgos teóricos. Mas nos dá a sólida satisfação de entender bastante melhor o que está acontecendo.

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