Autor: Edward O. Wilson
Alfred Knopf, New York, 2002, 0-679-45078-5,
O livro de Edward Wilson, O Futuro da Vida, é antes de tudo bonito. Todos os dados sobre o nosso drama ambiental estão aí, mas o texto flui. São destes autores que conseguem informar bem, sem ser chatos. E a imagem que resulta, uma visão de conjunto da nossa problemática ambiental, é muito rica.
O livro já tem uma edição brasileia, tornando-se mais acessível, e mais fácil de recomendar para alunos e amigos. As páginas mencionadas aqui se referem à edição original.
Wilson não é um sonhador inimigo da tecnologia. Mas reconhece os problemas que esta tecnologia gerou, e a necessidade dela nos ajudar a resolvê-los. Um dos problemas mencionados é a nossa “pegada” (footprint): o ser humano, para sobreviver, ocupa espaço de residência, espaço de culturas e outros, totalizando 2,1 hectares por pessoa, como média mundial. O norte-americano precisa de 9,6 hectares. Se formos seguir o modêlo americano, hoje já precisaríamos de 4 terras.
A verdade é que tardamos muito em tomar consciência da enrascada em que nos metemos: “A humanidade tem jogado, até agora, o papel de destruidor do planeta, preocupado apenas com a sua própria sobrevivência no curto prazo”. (p.102) É também uma visão estreita, que não leva em conta as dimensões além do econômico.
O dilema, na realidade, é moral: “Como no caso de todas as grandes decisões, a questão é moral. A ciência e a tecnologia fazem parte do que podemos fazer; a moral é aquilo que concordamos que deveríamos ou não deveríamos fazer.” (p.130).
É simplesmente gostoso ler um livro onde as informações são seriamente organizadas, mas sobretudo onde os valores são explícitos, pé-no-chão, rompendo com o cinismo ou o tecnicismo idiota que nos cercam. Wilson se insurge contra os mitos que nos cercam. Exemplo: “O americano médio paga dois mil dólares por ano em subsídios, desmentindo a crença de que a economia americana funciona com um mercado competitivo realmente livre” p.184). Emanifesta claramente o seu apoio aos que protestam: “Arriscando-me a parecer politicamente correto, escreve Wilson, vou fechar (este livro) com um tributo aos grupos de protesto…Os grupos de protesto constituem um sistema de alerta para a economia natural. São a resposta imunológica do mundo vivo. Eles pedem que os escutemos”.(p.188)
Desde “O Nosso Futuro Comum”, que continua leitura essencial apesar do tempo (1990), não surgia uma leitura tão rica e abrangente, permitindo que nos atualizemos de maneira simples e direta com o mundo do meio-amibente, que aliás é o mundo da nossa sobrevivência.