Estão começando a sair livros de avaliação sistêmica da crise financeira que vivemos. Publicado em fevereiro de 2009, e atualizado até finais de janeiro, o livro de David Korten é o resultado de um esforço intensivo de organização de dados e de propostas, capitalizando informações que vinha sistematizando nos últimos anos, e já incorpora toda a fase de eclosão da crise, inclusive os programas de Barack Obama.
David Korten ficou mundialmente conhecido ao escrever o que é ainda a melhor introdução à compreensão da dinâmica das corporações transnacionais, Quando as Corporações Regem o Mundo. A sua segunda obra publicada no Brasil, pela Vozes, A Sociedade pós-corporativa, é essencialmene propositiva, muito mais centrada na visão das alternativas que temos para criar uma economia e um processo de desenvolvimento que tenham pé e cabeça. O livro que acabamos de receber, Agenda for a New Economy, junta o conhecimento de primeira linha que o autor tem dos processos de globalização financeira, com as propostas práticas de construção de uma economia mais humana. Ao mesmo tempo que apresenta os mecanismos que geram a crise, Korten busca as oportunidades que se abrem para uma reforma mais ampla do casino global.
No conjunto, o autor considera que Wall Street, no que simboliza de desvio de capitais para atividades especulativas, é um sistema ultrapassado, desvinculado das necessidades prosaicas do mundo moderno, sendo inócuas as tentativas de salvá-lo. Usando a imagem da espaço-nave terra, Korten sugere que o faroeste financeiro onde qualquer esperteza é válida para os poderosos arrancarem o que puderem, simplesmente nos leva para o desastre. Numa espaço nave, que depende vitalmente de recursos que são escassos e não renováveis, cada agente econômico tem de pensar também na sua contribuição. Em termos éticos, devemos assegurar o básico para todos. Os excessos de pobreza e de riqueza são vistos como patológicos para o funcionamento equilibrado da sociedade. Numa proposta distribuida em 12 pontos básicos, Korten traz o que pode ser qualificado de uma “agenda do bom senso”.
Korten é um caso interessante: trabalhou muitos anos com a Usaid, participou de diversos programas de apoio ao desenvolvimento de regiões mais pobres, e foi adotando uma visão mais crítica não por leituras teóricas mas por ver como o sistema funciona. Hoje dirige uma ONG e faz um trabalho intenso de divulgação de alternativas de organização econômica e social. É sem dúvida um dos pensadores mais criativos da atualidade.
Trata-se aqui de um ensaio, livro pequeno, de leitura simples, mas extremamente rico em propostas práticas. Neste momento em que todos somos chamados a repensar os nossos rumos, é um grande aporte, uma das melhores leituras de economia aplicada, e extremamente “colado” no drama da crise financeira que vivemos.