When Rivers Run Dry (Quando os rios secam) – Water. the defining crisis of the twenty-first century – Autor: Fred Pearce,Eden Project Books, UK; Beacon Press, US, London, New York, 2006,
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When Rivers Run Dry (Quando os rios secam) – Water. the defining crisis of the twenty-first century – Autor: Fred Pearce,Eden Project Books, UK; Beacon Press, US, London, New York, 2006,

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Ladislau Dowbor
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Água virtual é a que está contida, por exemplo, num grão de arroz, calculando-se quanta água foi necessária para produzi-lo. Como ordem de grandeza, dependendo do tipo de cultivo, entre 2000 e 5000 vezes o seu peso em água. Ou seja, quando exportamos soja, na realidade estamos exportando também a água que foi necessária para a sua produção.

Fred Pearce, na revista New Scientist de 25 de fevereiro de 2006, traz um balanço da situação. Os dados básicos são os seguintes: produzir um quilo de trigo exige mil litros de água, um litro de leite exige dois mil, um quilo de açucar tres mil, um quilo de arroz até cinco mil. Produzir o algodão contido numa camiseta custa sete mil litros, um “quarteirão” de hambuguer onze mil, um quilo de café vinte mil.
O artigo de capa da revista constata que “o mundo produz duas vezes mais alimento do que há uma geração atrás, mas gasta tres vezes mais água para o seu cultivo”. O International Water Management Institute (IWMI) calcula que na Índia “se extraem 250 quilômetros cúbicos de água dos lençois freáticos, cerca de 100 quilômetros cúbicos a mais do que é reposto pelas chuvas”. O resultado prático é que as imensas reservas de água acumuladas durante séculos estão se esgotando com grande rapidez. Onde antigamente havia poços cavados, utiliza-se pequenas bombas que sugam água em profundidades cada vez maiores. Onde poços abertos encontravam água a 10 metros, hoje têm de buscar até 400 metros, e ainda assim secam. Pequenas bombas modernas, que agricultores individuais compram na Ínida, puxam 12 metros cúbicos por hora. Multipliquem isso por milhões de agricultores…
A lógica do sistema é implacável. Um agricultor entrevistado comenta: “Sim, estou preocupado que a água irá desaparecer, mas o que posso fazer? Eu tenho de viver, e se eu não bombeio a água, os meus vizinhos vão fazê-lo”. O artigo comenta que “todos têm acesso irrestrito ao equipamento, e a sobre-exploração é quase inevitável. É um caso clássico da tragédia dos [bens] comuns”.
Tushaar Shah, do IWMI, “estima que a Índia, China e Paquistão juntos bombeiam provavelmente cerca de 400 quilômetros cúbicos de água subterrânea por ano, cerca de duas vezes mais do que é reposto pelas chuvas.”…”Fora da Ásia revoluções similares estão acontecendo em países populosos como México, Argentina, Brasil e Maroccos. Até os Estados Unidos estão esvaziando preciosas reservas de água subterrãnea para cultivar grãos e carne para exportação”.
Lester Brown chamou esta falsa produtividade agrícola de “food bubble”, a bolha da alimentação, sustentada articialmente ao consumir o nosso amanhã. A dimensão internacional está se tornando evidente: “Sem que o saibamos, grande parte do mundo rico está importando safras geradas por meio de sobre-exploração de reservas de água subeterrânea – algodão do Paquistão, arroz da Tailândia, tomates de Israel, café da Etiopia, e até laranjas da Espanha e açucar da Austrália”.
Este cáclulo muda radicalmente a forma como calculamos o nosso consumo de água. “Um Ocidental típico com seus hábitos carnívoros e esbanjadores de leite consome até cem vezes o seu peso em água a cada dia”.
Há alternativas? Curiosamente, implica voltar um pouco para trás. Em outros tempos os indianos cavavam inúmeras pequenas barrragens para segurar a água nos vales, o que reforçava a filtração para dentro do solo e realimentava os lençóis freáticos. Os pequenos reservatórios assim criados se chamam tanka, nome que os ingleses adotaram sob forma de tank, e que nós transformamos em tanque. (O “tanque ” no sentido militar foi adotado em 1915, como nome código para a então nova arma).
O processo foi renomeado como “colheita de água” (water harvesting): “Em partes de Dehli onde velhos tanques e olhos d’água foram limpos e o lixo tirado, a água acumulada está recuperando os lençóis subterrâneos. A capital podia obter um terço da sua água colhendo chuva”.
O processo envolve evidentemente organização comunitária. Segundo Schah, “um fator importante na Índia é o controle comunitário. Poucos agricultores individuais podem captar com sucesso a sua água e armazená-la de baixo da terra – ela se dissiparia rapidamente no aquífero mais amplo. Mas se uma vila inteira o faz, os efeitos são frequentemente espetaculares. As camadas de água sobem, riachos ressecados voltam a fluir, e há mais água para irrigação, transformando a produtividade dos campos.”
O movimento de colheta de água de chuva, segundo Schah, “está mobilizando energia social numa escala e intensidade que pode torná-la numa das respostas mais efetivas para um desafio ambiental em qualquer parte do planeta”.
São dados que técnicos conhecem, mas estão bem ordenados neste artigo. A revista New Scientist é de circulação internacional, e este artigo de capa tem o tom de “sinal de alarme” para um processo que vem se agravando dramaticamente. Serve de alerta também para o Brasil, que tem tanta água que se acostumou a esbanjá-la.
Esta visão serve também para lembrar os esforços pioneiros da ASA, Articulação do Semi-Árido, cerca de mil organizações da sociedade civil que estão combatendo a seca através da micro-captação de água em cisternas. Veja em www.asabrasil.org.br
Fred Pearce acabou de publicar um livro sobre o tema, When Rivers Run Dry, Beacon Press, March 2006, 320 p., veja em www.amazon.com . O New Scientist pode ser acessado em www.newscientist.com

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